China planeja megalópole de 130 milhões de pessoas

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Cidade é maior que todo o Uruguai

Em cinco anos, uma cidade gigantesca vai se tornar uma região independente com cerca de 130 milhões de pessoas que vivem em Beijing, Tanjin e a província vizinha de Hebei, de acordo com relatório oficial divulgado na semana passada. A ideia seria um projeto dos sonhos do presidente do país e chefe do Partido Comunista, Xi Jinping.

Ele acredita que o modelo da nova metrópole, com a décima população mundial (próxima da do Japão), pode servir como base para a urbanização futura chinesa. “As cidades funcionarão juntas com agências centrais no planejamento do 13º plano quinquenal”, disse ele ao Economic Information Daily, afiliado na agência nacional de notícia Xinhua.

O plano vai incorporar três propostas principais – cuidar do desenvolvimento econômico e social, planejamento rural e urbano e uso da terra. Além disso, vai envolver a proteção ambiental, um desastre na China.

A criação da região, conhecida como Jing-Jin-Ji (uma abreviação de Beijing-Tianjin e Hebei) foi aprovada pelo Comitê Central do partido em abril. Segundo observadores, o plano quinquenal terá como eixos os conceitos de cinturões e zonas econômicas.

Em meses recentes, foram aceleradas medidas para espalhar departamentos governamentais e indústrias poluentes na área. Trens de alta velocidade estão no centro do plano, mas muitos dos residentes da região enfrentam caminhos demorados demais para o trabalho e vivem em subúrbios construídos às pressas e com pouca infraestrutura. “As ruas inundam com a chuva porque não há drenagem”, disse ao New York Times um morador de Yanjiao, com população de 700 mil habitantes.

“A supercidade está na vanguarda da reforma econômica”, afirma Liu Gang, professor da Universidade Nankai, em Tenjian, e conselheiro de governos locais para desenvolvimento regional. “Reflete as visões da liderança sobre integração, inovação e proteção ambiental”.

A nova região irá ligar os centros de pesquisa e a cultura criativa de Beijing com a força econômica da cidade portuária de Tianjin e o interior da província de Hebei, forçando a cooperação de áreas que nunca integraram seus esforços.

O governo de Beijing diz que vai mudar parte maior de sua burocracia, assim como fábricas e hospitais, para o interior, num esforço de compensar os limites residenciais da cidade, diminuindo congestionamentos e criando empregos mais bem pagos em áreas menos desenvolvidas.

Planeta está “gravemente doente”

Carbon Dioxide

Os recordes assustadores do clima em 2014

Os níveis do mar sobem, ciclones tropicais continuam a se multiplicar e os termômetros registraram um recorde, de acordo com novo relatório que acompanha o clima do planeta, e divulgado ontem.

É um compêndio de desastres, com evidências de mais aquecimento global, encolhimento do gelo do mar no Ártico e níveis recordes de gases de efeito estufa na atmosfera. Foi compilado por 413 pesquisadores de 58 países e apresentado pela Sociedade Meteorológica dos EUA.

O relatório Estado do Clima, publicado anualmente pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa), descobriu que os níveis globais dos mares alcançaram no ano passado um acorde de 67 milímetros sobre a média de 1993, quando começaram a ser feitas mensurações por satélite. Houve 892 ciclones tropicais no período, “bem acima” da média anual de 823 para 1981-2010.

Os indicadores do estudo são preocupantes. As emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar. Eles incluem CO2, metano e óxido nitroso, mais uma vez chegando a patamares históricos. O ano de 2014 foi o mais quente já registrado, com mais de 20 países excedendo seus recordes anteriores.

As temperaturas de superfície do mar seguem em elevação. Isto foi particularmente notável no Pacífico Norte, em parte pelo padrão de oscilação de variabilidade oceano-atmosfera centrado na região. Mas globalmente, a temperatura da camada superior da água oceânica chegou a um recorde, refletindo a acumulação continuada da energia térmica. Os oceanos absorvem mais de 90% do excesso de calor do planeta.

O Ártico continua aquecendo. 2014 foi o quarto ano mais quente desde que os registros começaram a ser feitos, no começo do século 20. O derretimento de neve na região ocorreu de 20 a 30 dias antes da média de 1998-2010.

Segundo cientistas, as consequências das temperaturas mais elevadas do oceano seriam sentidas por séculos, ainda que houvesse medidas imediatas de cortes de gases de efeito estufa.

“Acho que é como um trem de carga. É necessário um grande esforço para ele começar a andar, mas agora está andando e continuará assim até muito depois do empurrão inicial”, afirmou Greg Johnson, oceanógrafo da Noaa.

Jeff Severinghaus, da Instituição Scripps de Oceanografia, que não fez parte do estudo, disse que se este fosse o check-up anual da Terra, o médico diria: “Você está gravemente doente”

Degradação da Terra ameaça avanços na saúde

Featured image Altos níveis de CO2 vão comprometer nutrição A degradação sem precedentes dos recursos naturais da Terra, combinada à mudança do clima, pode reverter ganhos importantes na saúde humana nos últimos 150 anos, segundo estudo publicado hoje. “Estivemos penhorando a saúde de gerações futuras para conseguirmos os ganhos econômicos e de desenvolvimento de hoje”, diz o relatório, escrito por 15 acadêmicos notáveis e publicado no Lancet. “A civilização humana floresceu ao explorar insustentavelmente os recursos da natureza, mas agora corremos o risco de substanciais efeitos à saúde pela degradação dos sistemas de apoio à vida no futuro”. A pesquisa mostra que os níveis crescentes de dióxido de carbono na atmosfera reduzirão o conteúdo de zinco (um nutriente essencial) nas safras de alguns alimentos, levando ao aumento de deficiência do elemento. Ela estima que em 2050, quando a concentração de CO2 deverá ser de 500 partes por milhão, pelo menos mais 138 milhões de pessoas estarão expostas a problemas de saúde por má nutrição. É de causar alarme, porque o zinco ajuda a desenvolver o sistema imunológico, principalmente em crianças e mulheres grávidas. Sua deficiência pode levar à morte por todo tipo de doenças comuns, como diarreia e pneumonia. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas no planeta já se encontram nesta situação. Outra questão, fora do estudo, é se os humanos irão mudar sua dieta nos próximos 50 anos, e o quanto. Quaisquer mudanças podem afetar a absorção de zinco. De um ponto de vista otimista, o crescimento econômico e o desenvolvimento permitiram uma maior variedade de alimentos e o consumo de um número maior de calorias, o que seria vantajoso. Mas é muito mais provável que a explosão populacional, acoplada a questões como a mudança do clima e a escassez de água, continuarão a estressar a produção agrícola mundial, levando ainda a mais fome, Dirigidos por Samuel Myers, da Universidade de Harvard, os pesquisadores utilizaram uma série de fontes de dados para chegar a suas conclusões. Primeiro, informações de experimentos de plantações sob diversos graus de concentração de CO2. Quando elas são altas, há menos zinco em colheitas como de trigo, arroz e soja, por exemplo. Examinaram também pesquisas da quantidade da substância exigida por humanos para permanecerem saudáveis, assim como tipos e quantidades de alimentos consumidos em 188 países para ver onde sociedades diferentes estão conseguindo seus nutrientes. De acordo com Paul Ehrlich, presidente do Centro de Biologia da Conservação da Universidade Stanford (e não participante do estudo), ele é “muito importante por enfatizar o que é muito ignorado no terrível problema alimentar que o mundo enfrenta, ou seja, que milhões de pessoas podem estar desnutridas de microingredientes. E mostra como isto vai piorar.” Não só isso. Vai piorar em áreas já desproporcionalmente afetadas por problemas ambientais, como a mudança do clima. Os mais afetados serão as populações da África e partes da Ásia.

Mudança do clima traz riscos sérios aos oceanos

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Dois terços deles sofrem com acidificação e pesca excessiva

Um novo estudo, publicado na terça-feira na Nature Communications, usou medidas de uma série de pressões humanas sobre o oceano, como acidificação e excesso de pesca, para fazer um exame da combinação delas como causadoras de estresse, e como elas mudaram com o tempo. A descoberta foi que dois terços destas águas sofrem pressões cada vez maiores, e que são causadas em sua maior parte pela mudança do clima.

O mapeamento não fornece uma visão completa do impacto real destes estressores em diversos ecossistemas, mas cientistas não envolvidos com o trabalho afirmam que o trabalho é um passo importante para entender o destino dos oceanos e que pode servir de base para políticas, ao mostrar onde esforços de mitigação estão funcionando.

“Não existe uma parte do oceano global que não tenha influência humana”, dizem os autores. Isto vem da pesca e de fertilizantes que vão parar no mar, ou em formas mais indiretas, como o aumento de temperaturas e de dióxido de carbono, resultado de emissões humanas de gases de efeito estufa. Cerca de 97% das águas são afetadas por mais de um destes fatores.

Benjamin Halpern, da Universidade da Califórnia-Santa Barabara, e colegas utilizaram dados de uma gama de estressores, 19 ao todo, de satélites, modelos de computador e dados de pesca. Eles foram combinados, gerando um mapa de onde são relativamente altos ou baixos, E também compararam dados de 2008 a 2013, para mostrar onde tais pressões eram altas e subiam e onde eram baixas e em queda.

A equipe descobriu um aumento de 66% dos estressores humanos no período de cinco anos. Regiões costeiras e águas tropicais e subtropicais são mais impactadas. Os danos são maiores em cerca de 5% dos oceanos, e onde a situação piora, como nos mares do norte e leste da China. Perto de 10% têm baixo impacto e nessas áreas, como no Pacífico central, a situação melhora.

Scott Doney, que estuda acidificação na Woods Hole Oceanographic Institution, e não fez parte do estudo, diz que o trabalho é importante principalmente pelas informações disponíveis para aqueles fora da comunidade científica, mas que “esta não é a história completa”. O estudo apenas examina os estressores, mas não quais são os impactos reais sobre ecossistemas ou espécies em particular.

No entanto, se sabe que estes efeitos criam condições desfavoráveis para certos organismos marinhos, mudam a condição de ecossistemas, causa da migração forçada de espécies e mesmo leva algumas delas à extinção. A acidificação, por exemplo, interfere com a capacidade de alguns organismos, como os corais, de construir as conchas que usam para proteger seus corpos.

Aquecimento global: vôos mais longos, mais poluição

Mudança do clima altera padrões dos ventosFeatured image

Mudanças nos ventos sobre o Pacífico, causadas pela mudança do clima, podem aumentar tempos de vôos e consumo de combustível, provocando poluição, dizem cientistas em estudo publicado ontem.

Pesquisadores examinaram vôos entre Honolulu e Los Angeles, San Francisco e Seattle e descobriram que estas alterações iriam custar U$ 1.4 milhão a mais em combustível, em cada caso. Extrapolando isto para o resto do mundo, significaria um aumento total de emissões de CO2 de 0.03%.

Kristopher Karnauskas, da Woods Hole Oceanographic Institution, e seus colegas analisaram a diferença entre tempos de vôo de quase 250.000 deles e os compararam com ventos diários em altitude de cruzeiro. Depois, calcularam a respostas destes ventos a aumentos de gases de efeito estufa usando 34 modelos globais do clima.

Estudos anteriores haviam mostrado que aviões comerciais serão afetados pela mudança do clima primariamente em termos de turbulência. Outros mostram como ela está sendo exacerbada pelos aviões, que respondem por 5% das emissões dos EUA e 0.5% globalmente. A Agência de Proteção Ambiental anunciou no mês passado que as emissões de vôos comerciais são uma ameaça à saúde pública por causa do papel que desempenham na mudança do clima, o que vai exigir mais eficiência no uso de combustível.

“O que descobrimos foi que nas rotas particulares que estudamos, alterações nos ventos foram tais que os vôos para oeste serão mais longos no futuro, e aqueles para leste, mais curtos”, segundo o chefe do estudo, Kristopher Karnauskas.

“Este estudo foca principalmente em uma parte do quadro total, e abre um caminho para outros, mais amplos, avaliando toda a estrutura de rotas atual e como ela poderá ser em um mundo em mudança”, afirma Richard Alley, professor de geofísica da Universidade Penn State. As vidas de todos serão afetadas de alguma forma, e eles precisam se adaptar.

Nível do mar pode subir seis metros

375 milhões de pessoas teriam de se realocar

Mesmo que o mundo consiga manter o aquecimento global em 2ºC, meta das negociações atuais do clima, os níveis do mar ainda poderiam subir pelo menos 6 metros, transformando radicalmente as costas do planeta e afetando centenas de milhões de pessoas.

Esta foi a descoberta de um estudo publicado ontem na Science, que mostra o quanto os níveis subiram da última vez em que os níveis de dióxido de carbono eram tão altos. Isto foi há cerca de 3 milhões de anos, quando o globo era até 5ºF mais quente, o Ártico 14.4ºF mais aquecido, megatubarões nadavam nos oceanos e os níveis do mar ficavam a pelo menos 6 metros acima dos atuais.

Os megatubarões não vão voltar, mas esta elevação sim, não importa o que aconteça nas negociações do clima em dezembro, em Paris.“Mesmo se mantivermos a meta de 2ºC, podemos estar nos comprometendo com este grau de aumento no longo prazo”, disse Andrea Dutton, geoquímica da Universidade da Flórida e uma das co-autoras do estudo.

O possível fenômeno pode ser atribuído ao derretimento das geleiras na Groenlândia e Antártica. “Esta evidência nos leva a concluir que as camadas de gelo polar estão fora de equilíbrio com o clima presente”, afirmou Dutton. “Com a mudança do clima, os polos aquecem ainda mais rápido, o que levanta sérias questões sobre como aquelas regiões irão reagir”.

Os níveis do mar já subiram cerca de dois metros nos últimos 100 anos. Ao mesmo tempo, cientistas observam uma aceleração do derretimento do gelo flutuante da Antártica, que age como barreira para impedir que suas geleiras invadam o mar, se espalhando. Em algumas regiões, a espessura das geleiras caiu em até 18% nos últimos 18 anos, um processo que se intensificou na última década. De acordo com algumas estimativas, se o gelo da Antártica derreter completamente, os níveis do mar subiriam mais de 200 metros, o bastante para inundar o planeta,

E no caso do impacto do aumento de seis metros? Isto significaria uma perda de mais de 275.000 quilômetros quadrados de terra, e o deslocamento de 375 milhões de pessoas.

Lixo no mar prejudica também saúde mental

Lixo no mar

São 8 milhões de toneladas de plástico jogadas nos oceanos por ano

Já está ruim o bastante, mas pode piorar. O número dobraria até 2025, a menos que o mundo encontre modos de melhorar a coleta e o tratamento deste lixo. Para entender o tamanho do problema, Jenna Jambeck, da Universidade da Georgia, diz que é como alinhar cinco sacolas plásticas em cada 30 centímetros de todas as costas do mundo.

Jambeck e sua equipe combinaram dados econômicos e populacionais de 192 países banhados pelos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, além dos mares Negro e Mediterrâneo. Descobriram que eles criam 275 milhões de toneladas de lixo anualmente, das quais 4.8% a 12.7% de plástico foram parar nos oceanos. Isto é entre 2% a 5% do total de lixo criado por aquelas nações.

O uso de plástico para produtos de consumo tornou-se cada vez mais dominante desde sua adoção ampla, há 50 anos. Em 2012, por exemplo, foram produzidas 288 milhões de toneladas globalmente.

Agora, descobre-se que, além de ameaça sério ao ecossistema marinho, esta montanha de lixo pode afetar a mente humana, ou pelo menos eliminar os benefícios psicológicos de se ir à praia.

Existe uma literatura crescente sobre os benefícios psicológicos de ambientes naturais. Pesquisas recentes mostram que caminhadas na natureza diminuem pensamentos negativos (que podem causar depressão), e que crianças que vão a escolas com mais verde se dão melhor em testes cognitivos, por exemplo. Isto vale também para cenários costeiros ou relacionados à água, percebidos como “restauradores”, no sentido de tirar o peso da mente aliviando o estresse e recarregando nossa energia.

Um estudo conduzido por Kayleigh Wyles, do Laboratório Marinho de Plymouth, na Inglaterra, afirma que as pessoas perdem os benefícios à saúde quando encaram o lixo na água. Os pesquisados tenderam a achar uma foto de uma cena marinha natural como restauradora, mas o impacto foi fortemente negativo quando a paisagem estava suja.

Mundo precisa de mudanças políticas e econômicas contra a mudança do clima

Apenas técnicas não irão ajudar, dizem cientistas em encontro

(Thomson Reuters Foundation) – Lidar com a mudança do clima e seus riscos vai exigir não apenas respostas técnicas como plantas resistentes à seca ou barreiras para a elevação do mar. Será necessário reformular o cenário político e econômico que está incentivando o aquecimento global, disseram cientistas ontem.

“O maior risco que enfrentamos é estarmos lidando com o problema errado”, disse a socióloga Karen O’Brien, da Universidade de Oslo, em uma conferência de pesquisadores do clima que ocorre esta semana em Paris.

É importante usar mais energia renovável e estabelecer esquemas de seguros para as safras, além de sistemas de alerta. Mas a mudança do clima “é mais que um desafio técnico”. Encontrar soluções genuínas demandará examinar “quem tem poder e como isto precisa mudar”, afirmou ela.

A corrida para a perfuração de petróleo no Ártico, por exemplo, é vista por alguns analistas como um começo potencial de uma nova Guerra Fria, com países na competição para acessar as últimas fontes em busca de lucros e segurança energética, disse O’Brien.

Mas isto está acontecendo, apesar de a ciência mostrar que um terço das reservas já descobertas de petróleo, assim como metade das de gás e 80% das de carvão, devem permanecer no solo para evitar o descontrole do aumento de temperaturas, o que provocaria o colapso alimentar. Pouco irá acontecer se não forem enfrentadas estas contradições. Um modo de conseguir chegar lá é as pessoas se agruparem e tentarem mudar o modo como se comportam governos e instituições.

Muitas das maiores oportunidades de evitar um aquecimento já esperado de 4ºC até o final do século sobre níveis pré-industriais, o que mudaria radicalmente o mundo como o conhecemos, podem estar nas cidades de crescimento rápido, segundo Shobhakar Dhakal, do Instituto Asiático de Tecnologia, na Tailândia.

Já mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa causadas pela energia acontecem em cidades, segundo cientistas do Painel Intergovernamental da Mudança do Clima. Até 2050, as áreas urbanas terão mais 2.6 bilhões de pessoas, a maior parte delas na Ásia e na África, disse Dhakal. Se áreas de rápida urbanização puderem ter casas perto de locais de trabalho e serviços e fazerem do caminhar e do transporte público boas opções, as emissões poderão ser reduzidas dramaticamente.

“Nossa capacidade de fazermos cortes profundos nas emissões globais dependem em grande extensão de que tipo de cidade construiremos”, segundo ele. O progresso real na mudança do clima e na redução da vulnerabilidade a seus impactos irá ainda requerer esforços de coordenação de muitas atividades, como políticas sociais, planejamento urbano, seguros, monitoração do tempo e uso de tecnologias adequadas, afirmou Nobuo Minura, presidente da Universidade Ibaraki, do Japão. Johan Rockstrom. do Centro de Resiliência de Estocolmo, advertiu que “nós como humanidade, estamos agora em posição de destruir a estabilidade de todo o sistema mundial”, com o incentivo à mudança do clima. “Agora, precisamos de uma nova relação entre o povo e o planeta”.

Chuvas torrenciais aumentam com aquecimento global

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Enchentes terão impacto cada vez maior

Eventos extremos de chuvas vem batendo novos recordes nos últimos 30 anos. Antes dos anos 1980, as flutuações deles eram explicadas pela variabilidade natural, mas uma equipe de cientistas do Instituto Potsdam da Mudança do Clima detectou uma tendência crescente nas últimas décadas, de chuvas diárias sem precedentes. Segundo eles, isto é consistente com o aumento global de temperaturas, causadas pelas emissões de gases estufa da queima de combustíveis fósseis. Chuvas torrenciais de curto prazo podem levar a enchentes de alto impacto.

Uma análise estatística avançada de dados de chuvas dos anos 1901 a 2010, derivada de milhares de estações do tempo no mundo, mostra que no período 1980-2010 houve 12% a mais destes eventos do que se esperaria em um clima estacionário, um cenário em aquecimento global.

A anomalia tem padrões distintos nos continentes, Regiões geralmente úmidas sofrem mais – o aumento foi de 56% no sudeste da Ásia, de 31% na Europa, e de 24% no centro dos EUA. Em contraste, algumas áreas passam por uma diminuição recorde de chuva, caso do Mediterrâneo e oeste dos EUA. Ambas correm o risco de secas severas.

Uma análise estatística não pode fornecer uma relação direta de causa e efeito, mas os cientistas compararam suas descobertas com conhecimento existente de quanta água a mais pode ser armazenada na atmosfera quando as temperaturas sobem. Esta umidade adicional é liberada durante eventos de chuvas pesadas de curto prazo. O estudo mostra que o aumento observado geralmente se encaixa com o efeito termodinâmico esperado sob o aquecimento global.

“Um em cada dez destes acontecimentos observados globalmente nos últimos trinta anos só pode ser explicado se levarmos em conta o aquecimento de longo prazo”, disse ontem o co-autor do estudo Dim Comou.

Até agora, cientistas conseguiam chegar apenas a uma confiança média de como gases de efeito estufa induzidos pelo homem contribuíam com as chuvas torrenciais em escala global e regional. O novo trabalho ajuda a preencher esta lacuna nas pesquisas.

Ainda, a qualidade de dados históricos do tempo difere de um lugar para outro. No Saara, por exemplo, são muito escassos, o que torna difícil fazer conclusões sobre a área. Em outros locais, estes dados datam de mais de um século.

África, a caminho de um desastre ambiental

Potências e corporações correm atrás dos recursos naturais do continente

Infraestrutura tem um papel crucial no crescimento econômico e na redução da pobreza. A falta dela afeta a produtividade e aumenta os custos dos negócios, o que prejudica o desenvolvimento e a capacidade dos governos de determinar políticas de desenvolvimento econômico e social.

Países africanos, principalmente aqueles ao sul do Saara, estão entre os menos competitivos do mundo, e a infraestrutura parece ser um dos fatores principais. Muitos dos 54 países do continente são pequenos, com populações de menos de 20 milhões e economias de menos de U$ 10 bilhões. Seus sistemas básicos, como suas fronteiras, são reflexos de um passado colonial, com estradas, portos e vias férreas construídos para extração de recursos e controle político.

Este cenário parece prestes a mudar, e segundo ecologistas as ameaças são imprevisíveis. A África vai passar por um boom na exploração de seus recursos – cerca de 30% dos depósitos minerais globais estão em seu solo, de acordo com Jeff Sayer, da Universidade James Cook, na Austrália, que começou sua carreira como pesquisador ainda nos anos 60, na Zâmbia.

Apenas cerca de 5% da atividade de mineração do mundo ocorre na África. Empresas da Austrália, Canadá, Estados Unidos e particularmente da China estão de olho neste mercado, com investimentos em diamantes, ouro e manganês. As empresas chinesas, sozinhas, já quadruplicaram seus investimentos entre 2000 e 2009, chegando a U$ 100 bilhões. Com precárias condições de controle ambiental, e muitas autoridades governamentais sujeitas à prática comum das corporações da corrupção, não se sabe quanto da natureza será destruída e quantas pessoas serão deslocadas de seus territórios ancestrais – ou ainda trabalharem em regime semi-escravo. Para as empresas, claro, os retornos serão enormes.